Violência: O ano de 2013 ficou marcado na minha história para sempre. Eu estava em mais uma noite de trabalho no meu restaurante, quando fui vítima de um arrastão.

Na época, todas as noites aconteciam uns quatro em vários restaurantes em São Paulo. Eu resolvi não me esconder e ser mais uma a reclamar da falta de segurança: reagi construtivamente diante da violência na cidade e criei o movimento ‘Gastronomia Pela Vida’.

Relembrando a história

Era uma noite de quinta-feira, quando 4 homens renderam os seguranças e os manobristas do restaurante e entraram anunciando o assalto. Dos 70 clientes, 19 tiveram pertences roubados. Eles eram profissionais. Foram de uma agilidade tão grande, que muitos clientes não entenderam o que aconteceu. Anunciaram o assalto com uma naturalidade incrível. Não foi uma coisa assustadora; assustador é que o governo não estava fazendo nada. Fiquei com raiva de não poder defender a minha equipe e os meus clientes naquela hora.

O humorista Felipe Andreolli estava lá e relatou o momento. “Os caras estavam tão loucos, que quando passaram na nossa mesa – com carteiras, relógios e celulares em cima dela – só levaram a correntinha da minha cunhada e celular do meu irmão. Em um piscar de olhos, eles tinham sumido a pé. A dona do restaurante, uma querida, chegou com lágrima nos olhos pedindo desculpas a todos — como se ela tivesse culpa…”, contou em seu Twitter.

Abri o bistrô no dia seguinte e todas as reservas foram preenchidas. Tomei todas as medidas de segurança antes, o restaurante era equipado com sistema de vigilância e as imagens foram cedidas à polícia. 

A Virada

Os arrastões assustavam os moradores. Foram registrados 21 episódios desde o início daquele ano. Fora as dezenas de casos não registrados, porque os proprietários ficavam com medo de que caísse o movimento. Isso me deixou ainda mais indignada e pedi: “Socorro! São Paulo, o Brasil está completamente abandonado! Nosso povo é desrespeitado em seus direitos básicos. Não temos hospitais, escolas, transporte, moradia e muito menos segurança! Nossas leis são arcaicas! Nossa polícia, despreparada! Chega de corrupção, de falta de vergonha, de impunidade”.

Comecei a mobilizar os chefs amigos e a criar um movimento para pedir por segurança. O Gastronomia Pela Vida nasceu. Organizei uma passeata dia 13/6/2013 embaixo do MASP e mais de 200 chefs e restauranteurs aderiram. ONGs, fundações, associações, empresários e representantes de bairros reforçaram o time de protesto. Juntos começamos um movimento pedindo menos violência em São Paulo. 

Convoquei a imprensa, fui a programas de TV e consegui reuniões com o Secretário de Segurança Pública, com sindicatos, associações, prefeito e governador. Não fiquei quieta. Os governantes precisam fazer a parte deles. Realizamos uma Passeata Pacífica na Praça da Sé. Não foi um movimento de chefs estrelados de São Paulo contra arrastões em restaurantes. Foi um lindo movimento pró-vida.